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Era uma noite como tantas outras em Anti Pala, uma comunidade tranquila na província de Nampula, quando Vanessa Samuel começou a sentir algo estranho em seu corpo. Ela estava acostumada com a rotina agitada de cuidar da casa, mas, naquela noite, uma dor abdominal intensa a acordou. A dor logo foi acompanhada de vômitos e uma diarreia incontrolável. “O corpo todo gemia,” ela lembra. “Eu não conseguia me manter em pé, parecia que estava perdendo a força.”
Vanessa já tinha ouvido falar da cólera. Sabia que a doença existia, mas nunca imaginou que ela poderia afetá-la. Quando os sintomas começaram, ela ficou assustada, sem saber exatamente o que estava acontecendo com o seu corpo. “Eu não sabia muito bem o que era essa doença. Fiquei com medo, porque o vômito e a diarreia estavam muito fortes,” afirma.
Mas a reação da sua família foi rápida. Logo, foi levada ao hospital, onde a esperava um acolhimento que ela nunca esqueceria. “Fui muito bem recebida. Colocaram-me soro, recebi medicamentos, e parecia que eu estava sendo tratada como se estivesse em casa, com a minha própria família,” conta Vanessa.
Naquela noite, ela estava gravemente doente, mas a intervenção precoce da família a salvou. Se tivessem esperado mais um dia, o quadro poderia ter se agravado ainda mais. “Eu estava vomitando e com diarreia de forma tão intensa que, se tivessem demorado, eu teria perdido a vida,” afirma. “A família agiu rápido e me levou ao hospital, e isso fez toda a diferença”.
O tratamento foi eficaz, e Vanessa recuperou-se gradualmente. Mas a experiência mudou sua visão sobre a doença e a importância de medidas simples de prevenção. “Aprendi a lavar roupa, tomar banho todos os dias, fazer a limpeza dentro de casa, cavar chacos e manter a higiene pessoal e doméstica em dia. Comecei a me cuidar e a cuidar da minha casa de maneira diferente”, conta.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) desempenhou um papel crucial no combate ao surto de cólera em Moçambique, apoiando o Ministério da Saúde em diversas frentes. A OMS esteve presente em todas as províncias afetadas, proporcionando recursos essenciais como tendas para atendimento, kits de prevenção e tratamento, além de medicamentos para os Centros de Tratamento da Cólera (CTCs). A organização também contribuiu com a formação de profissionais de saúde, garantindo que estivessem capacitados para lidar com o aumento de casos. Além disso, a OMS colaborou na disseminação de informações sobre medidas preventivas.
O aprendizado não ficou só para ela. Vanessa passou a mensagem para os outros. “Temos que tomar banho, lavar as roupas, a louça, e preparar bem os alimentos. Quando sentir qualquer sintoma, é importante ir logo ao hospital, não esperar. Essa doença é muito perigosa”, alerta.
Infelizmente, a história de Vanessa não teve um final feliz para todos. Sua vizinha, que também havia contraído cólera, não teve a mesma sorte. Apesar de ser levada ao hospital, não resistiu e faleceu. “Era uma pessoa com quem compartilhava ideias, e quando a perdi, fiquei muito triste”, diz Vanessa.
O que aconteceu com sua vizinha foi um lembrete da gravidade da doença. Mesmo assim, Vanessa não desanima. Sua missão agora é ajudar a prevenir mais mortes. “Quero deixar uma mensagem para todos os meus vizinhos: precisamos lavar as mãos com sabão, cuidar da higiene, fazer aterros sanitários para o lixo e garantir que nossas casas estejam sempre limpas. Só assim vamos evitar mais tragédias”, diz com determinação.
Hoje, Vanessa se sente mais forte e mais consciente. Ela é uma defensora da saúde e da higiene em sua comunidade. Mesmo depois de enfrentar a cólera de forma tão pessoal e dolorosa, ela segue em frente, determinada a proteger sua família e seus vizinhos, espalhando a mensagem de que, com ação rápida e cuidados simples, a vida pode ser preservada.
Distribuído pelo Grupo APO para World Health Organization (WHO) – Mozambique.